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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


O dito cujo: o uso do relativo "cujo" como índice de monitoramento linguístico com vistas à inclusão social, mas com prevalência do manejo popular da transposição

Autores:
Lucia Deborah Ramos de Araujo (CP2 - Colegio Pedro II)

Resumo:

O uso dos pronomes relativos na língua cotidiana chama atenção por reduzir-se a praticamente um tipo, o chamado relativo universal (pronome "que"). No entanto, mesmo no ambiente virtual das redes sociais, onde os usuários da língua têm liberdade para expressar seu pensamento e onde o monitoramento é significativamente mais baixo, temos encontrado grande ocorrência do pronome "cujo". Considerado por muitos como índice de alto domínio dos mecanismos linguísticos de coesão, restrito a um seleto grupo, caracterizado pelo alto grau de escolarização, o "cujo" chega a ser visto como um recurso quase que exclusivo da escrita formal. Como compreender que o ambiente muitas vezes descontraído das redes sociais registre tal uso, em contextos pouco ou nada formais? Levamos em conta que o ambiente de interação se caracteriza pela escrita. Trabalhamos com a hipótese de que o usuário comum compreende a marcação social do uso do pronome "cujo" e busca, através do recrutamento desse recurso, demarcar sua inserção no grupo de usuários da língua que compreendem/manejam adequadamente o uso desse pronome e conferir ao seu discurso poder de convencimento, ainda que em prejuízo da coerência global e do próprio mecanismo de transposição, pela quebra de referenciação. Construímos um corpus de postagens originais em redes sociais e, para amparar nossos estudos, usamos os pressupostos teóricos da transposição sintática de TÉSNIÈRE os estudos sobre coesão textual de  KOCH e de GARCIA, as considerações sobre sintaxe das adjetivas em perspectiva funcional e os estudos sobre identidade e linguagem de RAJAGOPALAN. Analisando-se a aplicação do pronome "cujo" dentro e fora do contexto de transposição, confrontando-se os elementos cotextuais nos níveis morfológico e sintático, de modo a apurar a congruência do uso desse pronome com as demais escolhas sintáticas e discursivas dos falantes, pretende-se comprovar a hipótese apresentada.