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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


TEMPO E ESPAÇO NA AQUISIÇÃO DA ESCRITA

Autores:
Cristiane Carneiro Capristano (UEM - Universidade Estadual de Maringá)

Resumo:

Neste trabalho, tem-se por objetivo investigar o processo de interligação das relações espaciais e temporais de/em enunciados escritos de crianças brasileiras na aquisição da escrita, com a finalidade de refletir sobre em que medida esse processo é determinado pela singularidade de sua emergência em uma prática, no momento em que um sujeito enuncia e, ao fazer isso, reapresenta sentidos que refletem e refratam a (sua) relação com o outro – outro imediato, outro presumido ou por um sobredestinatário, conforme Bakhtin (1979[2003]), Brait e Melo (2012). Parte-se de uma leitura da noção de cronotopo, como apresentada em Bakhtin (1988), que o entende como o processo de assimilação do tempo, do espaço e do indivíduo histórico real que se mostra neles. A proposta é também a de avaliar o potencial explicativo dessa noção para entender o funcionamento de marcas linguísticas espaciais e temporais presentes em enunciados escritos pelas crianças durante a aquisição da escrita. Para o desenvolvimento dessa reflexão, toma-se como material de análise um conjunto de enunciados escritos produzidos por um grupo de crianças brasileiras que, à época da coleta desses enunciados, frequentava a então chamada quarta série do Ensino Fundamental. Esses enunciados foram elaborados a partir de uma mesma proposta de produção textual. Eles são analisados qualitativamente, com base em procedimentos teórico-metodológicos inspirados no Paradigma Indiciário, como formulado, por exemplo, em Ginzburg (1986). Como resultado ainda parcial, pôde-se observar que o cronotopo que orienta a produção dos enunciados infantis é um – aquele definido na proposta de produção textual que permitiu a emergência desses enunciados, constituído a partir dos contornos do gênero solicitado ou imaginado pela proposta de produção textual –, mas esse cronotopo é constantemente atravessado por outros, sobretudo aquele que nasce do encontro entre o sujeito e seu interlocutor imediato.