Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Natalia Ginzburg em jornais: um debate sobre o aborto nos anos 1970

Autores:
Cláudia Tavares Alves (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo:

Em 1975, Natalia Ginzburg, uma das mais importantes escritoras do século XX, publica o artigo “Aborto: a mulher está só”, no jornal italiano Corriere della Sera. Ali expõe uma série de reflexões acerca do que poderia significar, para uma mulher, a realização de um aborto. Longe de propor uma defesa cega e inconsequente do ato, Ginzburg mostra-se preocupada em construir seu argumento de forma que a prática do aborto não seja tratada como uma escolha tranquila para as mulheres. Além disso, a escritora traz para a discussão a questão da disparidade de classe, expondo as diferentes implicações e injustiças dessa escolha para uma mulher rica e para uma mulher pobre. Esse texto é uma resposta direta ao artigo de Pier Paolo Pasolini, publicado dias antes no mesmo jornal. Em “Sou contra o aborto”, o autor se coloca completamente contra a legalização que, junto com uma série de outras medidas progressistas, como a introdução do divórcio no país, seriam votadas em breve na Itália via referendo. Segundo o escritor, as massas estariam confundindo liberdade sexual com uma convenção consumista imposta pelo poder capitalista, e esse tipo de equívoco seria o pano de fundo para a “legalização do homicídio” causado pelo aborto. Instaura-se então uma polêmica que mobilizará vários escritores-intelectuais, sobretudo mulheres, que trazem para a discussão perspectivas até então ignoradas por Pasolini no texto que inicia o debate. Partindo de tal contexto histórico e reconhecendo a importância dessa discussão para a compreensão desses escritores, a intenção da presente comunicação é explorar quais foram os desdobramentos dessa polêmica, levando em consideração vozes femininas, como a de Ginzburg, que se destacam como um contraponto às afirmações de Pasolini, as quais tratam o aborto como uma “comodidade para a maioria dos casais” e não como uma escolha da mulher em relação ao seu corpo.


Agência de fomento:
FAPESP