Ao apresentar a poética e a linguagem clariciana no conto Os desastres de Sofia, buscaremos enfatizar, além da importância dessa escritora para a literatura brasileira em pleno século XXI, a complexidade textual de suas obras e sua conexão com o leitor e o fascínio criado a partir de uma linguagem subjetiva e própria, criando uma poética baseada em temas cotidianos, muitas vezes despercebidos, mas que carregam profundas reflexões e a percepção de uma autoficcionalização. Em sua escrita se notam a originalidade e o estranhamento, pois o uso da linguagem ultrapassa conceitos básicos de comunicabilidade, abarcando o poético e as possibilidades discursivas. Destacaremos o papel do leitor na atualização do texto, estabelecendo a distinção entre um texto de caráter ficcional/literário e um texto biográfico/confessional, visto poder rastrear os traços biográficos nas obras de Clarice Lispector, que são, entretanto, ficcionais. A análise do conto abarcará aspectos que revelam o movimento mimético (Auerbach) da própria escritora em direção à escrita, representada metaforicamente através da personagem Sofia. Do ponto de vista da atualização do conto, propomos repensar a construção discursiva das relações apresentadas entre professor, aluna e o espaço escolar, em um contexto mais amplo, através da leitura baseada em Bakhtin, Bauman e Candido, entre outros. A leitura da literatura clariciana pode expandir o diálogo acerca da experiência humana, centralizando nossa observação nas relações discursivas e linguísticas.