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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


O português falado no Libolo, Angola: aspectos prosódico-entoacionais

Autores:
Vinícius Gonçalves dos Santos (USP - Universidade de São Paulo)

Resumo:

Este estudo, fundamentado na abordagem Autossegmental-Métrica (LADD, 1996) da entoação integrada à Fonologia Prosódica (NESPOR; VOGEL, 1986), traz uma descrição analítica de características prosódicas do português do Libolo (PLB), uma municipalidade do interior de Angola, onde são falados o quimbundo, língua banta tonal (XAVIER, 2010), e o português, língua oficial do país. O corpus de análise é composto por 1875 enunciados, correspondendo a tipos frásicos lidos e semiespontâneos variados (declarativas, interrogativas, imperativos, vocativos), que foram obtidos através da aplicação da metodologia do projeto InAPoP (FROTA, 2012-2015) a sete libolenses (3 mulheres, 4 homens, 18-31 anos, escolarizados, bilíngues em português/quimbundo ou monolíngues em português). Nos dados, processos fonológicos sementais não são evidências categóricas para os domínios prosódicos, diferentemente do português europeu, mas próximo ao que ocorre com certos processos em português brasileiro e santomense (e.g., TENANI, 2002; PAULINO, 2016; BALDUINO et al., 2017). No nível suprassegmental, propriedades tonais também aproximam o PLB de variedades brasileiras, guineense e santomense de português, visto que há (i) a possibilidade da associação de acentos frasais a sintagmas fonológicos e (ii) uma associação frequente ou obrigatória, dependendo do tipo frásico, de acentos tonais a cada palavra fonológica pré-nuclear (potencialmente relacionada ao contato dessas variedades com línguas tonalmente ricas). Ademais, acentos bitonais nucleares (H+L*, L+H*), que se combinam com tons de fronteira simples e complexos, são predominantes. No geral, o inventário entoacional do PLB exibe diferenças e semelhanças sistêmicas e semânticas (cf. LADD, 1996) – e.g., ausência de L*+H L% marcando foco final; L*+H !H% transmitindo vocativos distintos – que, junto ao inventário das variedades ultramarinas de português, se contrapõe ao das europeias. Portanto, se o PLB sofreu mudanças estruturais morfossintáticas relacionadas à sua nativização e ao contato linguístico contínuo (e.g. FIGUEIREDO, 2018), o mesmo parece ter ocorrido quanto ao seu sistema prosódico. [Orientação: Flaviane Fernandes-Svartman]


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CAPES, CNPq