O contexto cultural do Rio de Janeiro, em fins do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX, é marcado pelo trânsito de elementos europeus e africanos nas manifestações artísticas e nos costumes sociais. A intensificação da presença da polca e do maxixe, na música e na dança desse período, caracteriza parte desses cruzamentos culturais também como reflexos da modernização porque passara o país àquela época. Na esfera da dança, por exemplo, a repercussão de ritmos sincopados e a presença de corpos mestiços passam a ocupar uma importância maior nos processos de construção e de manifestação sociais, ampliando os espaços de representação da cultura popular. Como observador e analista dessas manifestações artísticas e sociais, Machado de Assis, especialmente em contos escritos a partir de 1880, problematiza e potencializa aspectos referentes à presença desses cruzamentos culturais em sua escrita. Nesse contexto, proponho este artigo, no campo da Literatura Comparada, no qual elaboro um enfoque entre literatura e dança, com o objetivo de discutir elementos relacionados à representação do corpo dançante no conto “Terpsícore”, de Machado de Assis. A abordagem direciona uma leitura interartes para a compreensão da corporeidade e da cultura popular, no movimento dançado nessa narrativa machadiana, considerando-se o ambiente cultural brasileiro desse período.