Para compreender os caminhos da alfabetização, partimos da concepção de criança como sujeito de linguagem e investigamos seus espaços de expressão e criação desde a Educação Infantil. Com base em Vigotski, Luria e Bakhtin, e em diálogo com autores que se dedicam aos estudos das linguagens na infância e da alfabetização na perspectiva discursiva, analisamos as produções de crianças com idades entre 2 e 7 anos, a fim de compreender as marcas que constituem os discursos produzidos por elas no contexto escolar. Entre brincadeiras, rabiscos, movimentos, falas, desenhos, leituras e escritas, as crianças se apropriam das diferentes linguagens e constroem espaços de autoria, entrelaçando realidade e imaginação, vida e arte em seus processos criativos. Partindo da concepção de que a linguagem é processo de interação e interlocução, de produção e circulação de sentidos, dialogamos com as crianças e suas produções, identificando referências às histórias de vida, ao universo social e cultural em que estão inseridas e aos sentidos que produzem acerca delas mesmas, do outro e do mundo, além de suas compreensões sobre o que e como seja a escrita. Relacionamos, ainda que tangencialmente, as possibilidades de expressão e de criação das crianças às práticas pedagógicas, identificando tensões entre uma cultura escolar marcada pelos modelos pré-estabelecidos e uma outra que vai sendo construída no sentido de fazer da sala de aula espaço-tempo dialógico, polifônico e polissêmico, investindo na autoria de docentes e discentes.