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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


O papel da pesquisa linguística no combate ao preconceito linguístico

Autores:
Paul Oneill (TUOS - University of Sheffield )

Resumo:

Recentemente, a revista Language and Society publicou, em uma única edição, uma série de contribuições dedicadas a uma discussão sobre o papel da pesquisa sociolinguística na mudança social. Lewis (2018) conduziu a discussão com uma crítica do principle of error correction de Labov, que assume que a mudança social pode ser alcançada quando os pesquisadores compartilham seu conhecimento com o público e os responsáveis pelas políticas linguísticas. Lewis questiona a eficácia de tais esforços e sugere que os pesquisadores devam abandonar o desejo de serem "objetivos" na pesquisa sociolinguística, conforme promovido por Labov (1982), em favor da adoção de uma abordagem mais criticamente reflexiva. Nesse contexto, analiso os esforços dignos e louváveis dos linguistas brasileiros para combater o preconceito linguístico contra variedades não-padrão do português e conclui-se que muitos destes estudos são guiados pelo princípio da correção de erros. Eu apresento evidências de estudos experimentais (Flores e Rosa 2015; Irvine e Gal 2000b; Kang e Rubin 2009; Rubin 2002) nos quais crenças sobre a pertença de pessoas a um grupo social ou étnico desencadeiam avaliações distorcidas da fala deles (ou seja, são interpretadas como falantes de uma variedade não padrão mesmo que tais características não estejam presentes na linguagem deles) e conclui-se que o preconceito linguístico pode agir independente dos traços linguísticos. Portanto analiso o preconceito linguístico dentro da teoria do filósofo francês Pierre Bourdieu e enfatizo que os preconceitos linguísticos estão entrelaçados e intimamente relacionados a outros tipos de preconceitos e frequentemente os argumentos em torno das percepções dos traços linguísticos não são argumentos linguísticos senão argumentos sobre quem tem o poder e define o que é o uso ‘correto’ (ver também Snell (2018) e Bourdieu (1991)). Conclui-se com várias sugestões e reflexões sobre o papel da pesquisa linguística no combate ao preconceito linguístico.