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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Tradução e língua de herança: o sujeito entre-línguas

Autores:
Erica L. A. Lima (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo:

O uso da tradução para o ensino de línguas historicamente tem sido avaliado como pernicioso. A partir da metade do séc. XX, com o Pós-Estruturalismo, entretanto, alguns estudos passam a considerar a tradução como um processo inerente e fundante da aprendizagem de línguas (Ottoni, 2005) e como indissociável de todo e qualquer pensamento, seja na própria língua, seja na língua do outro. Nesse contexto, este trabalho pretende abordar a importância da tradução para a manutenção da língua de herança, considerando especialmente as concepções derridianas de monolinguismo, différance e hospitalidade (Derrida, 1996; 1997; 2001). A tradução possibilita entendermos que o funcionamento das línguas “materna” e “de herança” é sempre feito dentro de jogos de interpretação, o que nos proporciona uma maior conscientização das diferenças na língua e entre-línguas. O papel mais significativo da tradução, portanto, é mostrar que várias línguas nos constituem como sujeitos, e que, na relação com a língua de herança, isso é ainda mais significativo, uma vez que envolve explicitamente a própria redefinição da identidade (Rajagopalan, 2003). Embora as reflexões apresentadas neste trabalho sejam  iniciais, elas já corroboram o fato de que a tradução, como meio de interação e construção de sentidos (Berman, 2002; Derrida, 2002; Lima e Siscar, 2012), pode auxiliar no desenvolvimento e manutenção da língua de herança, proporcionando maior conscientização linguística e capacidade de interpretação, por meio dos questionamentos que desperta em relação à cultura, à identidade e à indissociabilidade das línguas. Perceber que as línguas são complementares auxilia o falante de herança a transitar entre elas, adquirindo confiança para participar nos jogos de sentido nas duas línguas e a ser cada vez mais hospitaleiro com o outro.